domingo, 18 de setembro de 2011

Frustrado por Mundial, Kaio Márcio se fecha para dar o troco no Pan


Kaio Márcio ficou em décimo lugar no Mundial de Esportes Aquáticos, em julho. Foto: Ralff Santos/FFC/Divulgação Kaio Márcio ficou em décimo lugar no Mundial de Esportes Aquáticos, em julho


Recordista mundial dos 200 m borboleta, Kaio Márcio Ferreira da Costa Almeida, 26 anos, apostou todas as suas fichas no Mundial de Xangai, ocorrido no mês de julho. Tamanho empenho pode ter se refletido em abatimento após o 10º lugar. "Eu gostaria de não tocar nesse assunto. Gostaria de pular a pergunta, posso", indagou Kaio, na sala de reunião da natação do Fluminense, clube que o atleta defende, no último mês.
Kaio só pensa agora nas próximas competições. Quer dar o troco. Principalmente no Pan de Guadalajara, que acontece em outubro. Quem aceita falar dos problemas enfrentados pelo nadador logo antes da viagem para o Mundial é seu técnico, Luiz Raphael.
"Ele já vinha se sentindo cansado. Mas quando chegou a Macau, para a aclimatação, começou a se sentir mal. Nas medições constatamos que o Kaio estava 2,5 kg mais magro, sendo que 2 kg era de massa muscular. E ele é um nadador extremamente dependente de força, de massa muscular. E essa perda influenciou diretamente no rendimento dele na competição". disse.
O técnico declarou que o nadador passará a se medir semanalmente, e não mais por períodos. Para Luiz, além da alimentação, outro fator que levou o nadador a pesar 74kg - seu peso ideal é de 77kg - foi a intensa correria para treinar em uma piscina melhor.
"Vínhamos de um ritmo de treinos muito intenso. Para conseguir treinar numa piscina de 50m, estávamos treinando no Maria Lenk, só que levávamos entre ida e volta quase três horas da Zona Sul até a Barra e vice-versa. Quando chegávamos, o Kaio ia direto para a academia. Almoçava por volta das 14h. E caía novamente na piscina às 16h, no Fluminense. Então eu acho que isso o levou a um desgaste, um consumo muito grande e ele acabou perdendo força".
Até maio Kaio vinha treinando na Escola Naval, mas com a entrada da frente fria e o desligamento do aquecedor da piscina, o nadador teve que procurar outro lugar para treinar. A primeira opção seria as raias do Fluminense. Mas as várias atividades e escolinhas do clube, durante todo o dia, não permitem virar a piscina em 50m.
Então o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) ofereceu a piscina do Complexo Maria Lenk para que o atleta continuasse seus treinos. O que acabou ocasionando toda a correria dos últimos meses, e levando Kaio a um desgaste excessivo de acordo com o treinador.
Índice para a Olimpíada de 2012 e o Pan de Guadalajara
Mesmo com o baixo desempenho em Xangai, Kaio conquistou o índice nos 200 m borboleta, sua especialidade, e carimbou seu passaporte para a Olimpíada de Londres em 2012, com o tempo de 1m56s06.
Perguntado se a conquista do índice não tinha sido também um bom resultado, o nadador preferiu nem comentar. Já Luiz confessa que nem lembra disso. "Fiquei tão chateado, tão decepcionado. Ele veio correndo bem a temporada inteira. Era só um pouquinho de descanso, ele entrar na casa dos 54s e conquistar a medalha. Então não posso falar que fiquei feliz, porque a frustração foi maior. E isso só vai passar na hora que ele der um grande resultado. Mas com certeza, esse índice dá tranqüilidade para o trabalho", afirmou o técnico.
Agora, treinador e atleta focam o trabalho na próxima competição do semestre, os Jogos Pan-Americanos, em outubro. No México, seu foco será trazer medalhas, sem grandes possibilidades de obtenção de tempo, já que Guadalajara está à 1500m de altitude. Segundo ele, a performance não será proveitosa nessas condições. Na competição, Kaio nadará os 100 m e 200 m borboleta e o 4x100 m medley.
O sonho era outro
Kaio só começou a nadar para enfrentar um sério problema de asma. Mas seu maior sonho era o futebol. Com problemas de horário de treinamento, ele acabou abandonando o sonho de brilhar nos gramados e decidiu se profissionalizar na natação. O resultado foram recordes mundiais e um talento para fazer história nas piscinas mundiais.
O primeiro recorde mundial foi em 2005, nos 50 m borboleta, em piscina curta. "Quando bati o meu primeiro recorde mundial foi uma emoção muito grande, eu estava realmente buscando aquele recorde. Era uma prova de 50 m borboleta, onde você cai e já está ali querendo terminar a prova. Você fica com muita adrenalina acumulada. E quando eu cheguei e vi o placar, liberei aquela adrenalina. Foi uma emoção muito grande", descreveu.
A reação foi diferente no seu segundo recorde mundial, nos 200 m borboleta, em 2009, que Kaio mantém até hoje. "Como era uma prova um pouco mais centrada, eu fiquei muito feliz, mas a ficha só caiu depois. Até o momento que eu cheguei estava muito concentrado na prova, mas é uma emoção bem legal".
Kaio afirmou que ver seu recorde ser superado, no caso dos 50 m borboleta, foi muito tranquilo, principalmente porque ele não competia mais na modalidade, e com a ajuda dos trajes tecnológicos essa quebra era questão de tempo somente.
Desde 2009, o nadador vive no Rio de Janeiro. Primeiro, defendeu a camisa do Tijuca Tênis Clube, mas no final do mesmo ano se transferiu para o Fluminense, onde está até hoje. No clube das Laranjeiras, Kaio foi em busca de uma estrutura maior. Também encontrou o treinador Luiz Raphael, o que considera ser um dos fatores que lhe levou a conquistar títulos de expressão.
"O Fluminense me recebeu de braços abertos, tem uma estrutura ótima. Meu treinador é muito bom viaja sempre comigo e está comigo todos os dias. É um clube que leva a natação muito a sério, então acho que isso conta muito também. O Fluminense tem uma filosofia de natação de qualidade. O objetivo do clube é fazer o atleta treinar aqui, vir para o clube, trabalhar aqui, e não contratar todo mundo e cada um treina em um canto", disse.
Rio 2016?
No ano passado, Kaio não se enxergava na Olimpíada do Rio em 2016. Estava cansado e já não rendia como de costume nos treinamentos. Mas, hoje, a história é outra e o nadador não só acredita que estará competindo no Rio, como também vê um futuro mais longínquo.
"Eu acredito que vou estar competindo em 2016. Eu comecei a entrar no treinamento, me adaptar melhor, e hoje me sinto muito bem. Vou estar em 2016 tranquilo. Até arriscaria 2020, mas aí é muito tempo (risos). Mas 2016 com certeza vou estar". 

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