quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Renatinho, árbitro de duas finais olímpicas, nunca foi a um Pan


Carlos Renato Santos, basquete
Carlos Renato Santos, o Renatinho, homenageado ao lado do técnico Lula Ferreira
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“Falta um Pan” na carreira de Renatinho – o Carlos Renato Santos, árbitro de basquete que apitou as finais olímpicas de Sydney-2000 (com ouro dos Estados Unidos sobre a França) e de Atenas-2004 (com a Argentina campeã sobre a Itália), mantendo a tradição dos brasileiros apitando alguns dos jogos mais importantes da história, nesse esporte.

Quem decide quais os árbitros do continente serão chamados para os jogos em Guadalajara, agora em outubro, é a Fiba (Federação Internacional de Basquete) Américas. E Renatinho, 38 anos, na expectativa e sempre brincalhão, avisa que “falta um Pan” em seu currículo, que tem início em 1985.

- A Fiba limita a idade dos árbitros em 50 anos. Eu já queimei muita lenha mas ainda tenho muita para queimar!. Sempre procuro estar preparado, também para os grandes eventos. Penso agora no Pan e na Olimpíada de Londres-2012. Rio de Janeiro-2016? Também vejo como possibilidade, sim.


Em vez de jogador, árbitro

Quando garoto e treinava basquete no Pinheiros, o que Renatinho gostava mesmo era de apitar os coletivos.

- Acho que isso nasceu comigo... Deve ser dom. Com o tempo, a gente aprende muito. Primeiro, quer apitar tudo, mostrar autoridade. Depois, aceita mais o jogo, conversa com jogadores e técnicos, ganha jogo de cintura, vai ficando escolado. E ganhando mais paciência. Mas acho que algo bom, para mim, foi impor a disciplina desde o início. Respeitando os outros e ganhando o respeito deles.

Lembrando de erros, Renatinho lembra de um jogo Flamengo e Vasco.

- Foi erro meu. Final do Campeonato Carioca e o Flamengo estava atrás, três pontos. Dei um arremesso como da linha de três - depois vi na TV que o jogador tinha pisado na linha. Mas o jogo foi para a prorrogação e o Flamengo ganhou um jogo que teria perdido. Teve muita repercussão, por causa da TV.


Guerra na Grécia

De jogos de destaque, lembra das duas finais olímpicas, de Sydney-2000 e Atenas-2004, e também da Iugoslávia derrotando os Estados Unidos nas quartas de final do Mundial de Indianápolis-2002. E de outro de quartas de finais, na Olimpíada-2004.

- A Grécia, jogando em casa, enfrentava a Argentina – que venceu. E depois faria a semifinal contra os Estados Unidos e seguiria contra a Itália, para ser campeã. Esse jogo da Grécia e da Argentina foi dos mais difíceis, pela pressão dos gregos jogando em casa, 20 mil na torcida... E pau a pau, uns quatro pontos de diferença – 67-63?... Acho que me credenciou para apitar a final.

Pode ter até havido desconfiança por parte dos argentinos, por colocar o árbitro brasileiro, mas mais tarde Renatinho ouviu de Rubén Magnano, o técnico daquele país, que seria campeão olímpico (e atualmente dirige a seleção brasileira): “Se você não estivesse lá, não sei o que seria aquele jogo”.

Renatinho não acreditava que fosse apitar outra final olímpica, depois de já ter sido chamado em Sydney-2000.

Trabalhando com administração, em construção civil, mantém a forma em academia. É um dos 19 árbitros internacionais brasileiros em atividade, mesmo número da Argentina – e os dois países só perdem dos Estados Unidos, com 26, no continente.

A arbitragem do basquete, diz, está crescendo e caminhando para a profissionalização, inclusive no Brasil.


Mais contato, jogo mais solto

O árbitro moderno, para Renatinho, tem uma filosofia para cada tipo de torneio.

- É diferente. Em torneios nacionais são os mesmos times e jogadores, a gente pode dizer que você está mais próximo. Nos internacionais é completamente diferente, de quatro em quatro anos, os jogadores mudam, os técnicos

A arbitragem também mudou, seguindo a Fiba, para a qual o contato só deve ser apitado “quando causar efeito no jogo”, o que em muitos casos não acontece, também com o maior preparo físico dos jogadores.

- Antes, se valorizava muito mais o atacante. Hoje quem defende é mais valorizado, há mais consciência de não ficar forçando faltas.

Lembrando de “reclamões”, o nome de Oscar Schmidt sempre está na lista.

- Quando ele voltou a jogar no Brasil, no Corinthians, teve um amistoso. Ele não me conhecia, não sabia que eu também sou marrento. Daí que ficava falando um monte para mim, dizendo “vai vender remédio”, “var ser farmacêutico”. Dei uma técnica e desqualifiquei o Oscar. Depois, ele dizia que ficava tranqüilo quando ia apitar jogo dele, porque eu era justo. Com o tempo, a gente virou amigo!

Tradição em Olimpíadas e Mundiais

Antônio Carlos Affini esteve na final da Olimpíada de Seul-1988 (com ouro da União Soviética sobre a Iugoslávia), depois na final do Mundial da Argentina-1990 (a Iugoslávia foi campeã sobre a URSS). Foi ao Pré-Olímpico de Portland-1992 e o primeiro árbitro a apitar um jogo do Dream Team (com Larry Bird, Michael Jordan, Charles Barkley, Magic Johnson...) na Olimpíada de Barcelona-1992.

Renato Righetto foi protagonista na confusão na final olímpica de Munique-1972, quando os Estados Unidos tinham 62 vitórias consecutivas, 50-49 no placar sobre a URSS, a três segundos do fim. Os Estados Unidos retomaram a posse de bola a um segundo.
O técnico soviético Vladímir Kondrashin reclamou que Righetto não havia atendido a seu pedido de tempo, anterior ao lance. O inglês William Jones, secretário geral da Fiba, aceitou o protesto e, com mais três segundos, Belov acertou a última cesta, na primeira derrota do basquete norte-americano em Olimpíadas. O brasileiro não assinou a súmula (o que invalidaria o resultado...) e os jogadores dos Estados Unidos não aceitaram receber a medalha de prata.

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