Imagens da "Santa Morte" atraem devotos na cidade do Pan

Apesar de ser uma cidade tradicionalmente católica, Guadalajara tem mercado com "imagens de morte"

Você consegue se imaginar fazendo pedidos a uma imagem da morte? No México, isso não é apenas possível, é comum. E em Guadalajara, cidade-sede dos Jogos Pan-Americanos de 2011, as imagens da Santa Morte são populares entre os devotos que as procuram no maior centro de comércio informal da cidade, o Mercado San Juan de Dios.

Conhecido como "Taiwan de Dios", o local reúne centenas de bancas e estandes, onde o visitante pode encontrar comida, produtos eletrônicos, roupas, acessórios para o lar e imagens religiosas. Entre elas, as do esqueleto vestindo túnica costumam ser bastante procuradas - muitas vezes, até mais do que as imagens que correspondem à tradição católica do país.

"Há mais gente que crê e compra do que as que compram imagens religiosas", assegura uma funcionária do mercado, escorada no balcão, que manteve sigilo sobre o nome. "Eu respeito, mas não creio", completa, ao lado de uma colega de trabalho.

A funcionária da hierberia, repleta de imagens de santos e de orixás, explica como funciona a crença. Segundo ela, o devoto da Santa Morte compra uma pequena imagem para fazer um pedido - trabalho, amor, saúde. Se atendido, a Morte pede algo em troca, como uma imagem maior. Se não obtiver, a caveira apenas toma o pedido de volta.

Silvia Silva, funcionária de outra banca do mercado, adota postura semelhante. "Para minha casa, não compraria. Quando tiver que entrar (uma imagem em casa), vou recorrer a alguém", disse a vendedora, que dá mais uma pista a respeito da devoção às imagens da morte. "Tiramos os santos para colocá-las", conta.

Apesar da assustadora imagem que vende, Silvia garante que os pedidos à Santa Morte não são uma ameaça. "Não há nada disso de magia negra. Não envolve nada de sangue, de morcegos. Pode-se dizer que são apenas seguidores, adoradores, devotos", afirma ela.

Outro funcionário do mercado, que se intimidou ao ser abordado (estamos em um mercado informal), explicou que as imagens atendem pedidos referentes às cores das túnicas: branca para abundância, amarela para afastar a inveja, prateada para atrair dinheiro, vermelha para o amor, preta para atrair trabalho. "A de todas as cores é para atender a tudo", explica. "São para desejos, para atrair amor, negócios e coisa assim, tudo que se deseje".

O comerciante, porém, só não soube explicar o porquê de uma imagem de uma caveira para os pedidos. "Tem fé, mais do que nada. Tem fé. Muita gente vai aos templos para rezar. Nos templos, podem dizer melhor", diz o vendedor, que também negocia sabonetes afrodisíacos e velas para a "Santa Muerte" na tenda.

O culto, de origem associada às homenagens aos mortos no Dia de Finados (2 de novembro), teria também a influência de crenças pré-colombianas. A Igreja Católica do país ainda torce um pouco nariz para o hábito, arraigado entre as classes mais populares. Mas para os vendedores da imagem, o Pan de 2011 pode ser uma boa - vai saber se os atletas não passam pela Taiwan de Dios em busca de uma forcinha?

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