Na sede do Pan, Hospício Cabañas atrai fãs de cultura e surpreende

Localizado no Centro Histórico de Guadalajara, Hospício Cabañas atrai turistas e fãs de arte
Foto: Emanuel Colombari/Terra

Visitar Guadalajara e ouvir ou ler que o Hospício Cabañas é um dos principais pontos turísticos da cidade pode parecer, bem, uma insanidade. Talvez fosse, se não se tratasse de um dos museus mais respeitados do país dos Jogos Pan-Americanos de 2011. Ele se localiza em um prédio de mais de dois séculos e que foi declarado pela Unesco um Patrimônio Mundial da Humanidade em 1997, graças a respeitada história.

Situado no centro da cidade, o hoje Instituto Cultural Cabañas (ICC) é próximo ao Palácio do Governo do Estado de Jalisco. A construção original data de 1810 e foi idealizada pelo bispo Juan Cruz Ruiz de Cabañas y Crespo, que pretendia levantar na cidade uma hospedagem para órfãos e pobres. Antes mesmo que Cabañas visse a obra terminada (o prédio só foi concluído em 1845), a construção chegou a ser ocupada por militares, que a transformaram em quartel durante a Guerra da Independência (1810-1827).

Retomada a função, a Casa de Caridade chegou a ser tomada em diversas revoltas. Somente ao fim da Guerra da Reforma (1864) é que a Irmãs da Caridade reassumiram o local. Foi assim até 1980, quando a instituição se transferiu de endereço por conta de um decreto governamental - sem, porém, deixar de lado o projeto social de acolher e ensinar jovens de órfãos de baixa renda.

O antigo prédio, depois de três anos de adaptação, foi reaberto como Instituto Cultural Cabañas com a missão de difundir a arte. No entanto, o nome de Hospício nunca se perdeu, e até hoje o ponto atende desta forma curiosa.

A confusão, porém, é bem-recebida pelos funcionários do local. "Há alguns países da América do Sul que pensam isso. Em geral, passam turistas de todo o mundo por aqui pensando que se trata de um convento. Uns 10%, 20% pensam que se trata de uma instituição de loucos", afirma Ernesto González, 52 anos, funcionário do ICC que trata de diferenciar o Cabanãs dos "outros hospícios". "Aqui, chamamos de nosocómio ou demanicómio", diz.

Nas últimas três décadas, as instalações do ICC se transformaram muito. O convento passou a ser uma escola de música, o hospital virou a sala de cinema Guillermo del Toro, a capela se tornou uma sala de conferências (depois de ter sido um refeitório) e a igreja não recebe celebrações religiosas desde 1929.

Este último espaço, porém, se manteve como o mais importante da construção de 26 mil m², reunindo pinturas feitas por José Clemente Orozco na década de 1930 - a mais importante dela, "O Homem de Fogo", ocupa a cúpula.

"Ali estão a natureza, o homem e os quatro elementos: terra, fogo, água e vento. Trata-se de uma alegoria da natureza humana", filosofa González, que vai além. "Estão retratadas a revolução espiritual e social do México", completa, explicando que as pinturas de Orozco estão espalhadas também pelo Palácio do Governo e pelo Palácio Legislativo, completando toda uma série sequencial de imagens pelo Centro Histórico da cidade.

O Hospício Cabañas ainda conta com duas bibliotecas e 23 pátios, decorados com fontes, jardins, estátuas e colunas em estilo toscano. Em dias normais, a construção em estilo neoclássico recebe cerca de 500 visitantes, mas o número quadruplica durante a alta temporada - caso de outubro, quando Guadalajara recebe o Pan e uma série de outros eventos culturais.

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