Misto de rodeio e vaquejada é esporte nacional mexicano
Os Jogos Pan-Americanos de 2011, em Guadalajara, contarão com 36 modalidades em disputa. E mesmo com uma lista tão extensa de práticas competitivas, o esporte nacional do México não consta no programa oficial do evento disputado no país. Misto de rodeio, vaquejada e equitação, a charrería (ou charreada) atrai grandes públicos a suas disputas, e conta até mesmo com um importante campeonato nacional.
O esporte é bastante familiar aos povos americanos, inclusive brasileiros. Montados em cavalos, os peões (ou "charros") competem em provas de força, habilidade ou rapidez. Cada uma das dez provas que compõem uma disputa de charrería é chamada sorte (ou "suerte"). A disputa é majoritariamente masculina, mas os charros admitem a participação de mulheres em uma das sortes, a Escaramuza - eventualmente disputada.
A "partida" não é das mais complicadas. Duas equipes de charros competem com até 12 cavaleiros nas dez sortes em questão. Em cada sorte, são avaliadas por juízes, que analisam o desempenho dos charros mediante critérios específicos. Ao final das dez sortes, somam-se os pontos dos times e decreta-se o vencedor. No México, os charros disputam competições por estados, para classificar as equipes por regiões. Entre outubro e novembro, a Federação Mexicana de Charrería realiza as finais nacionais - este ano, em Puebla.
"O charro nasceu no campo, com os trabalhadores que cuidam do gado e trabalham no campo, cuidando, engordando, medicando o gado. O mesmo que fazíamos no campo, fazemos na cidade, mas como esporte. Assim nasceu a charrería organizada, em 1920", explica Javier Sanchez, 60 anos, membro do conselho executivo dos Charros de Jalisco e orgulhoso por ajudar a manter a tradição, com ajuda da cultura mariachi e da tequila.
"(A charrería) segue sendo forte na cidade, porque todos temos familiares com ranchos, com gado. É costume, tradição, folclore. É mexicanidade e identidade. Falar de charrería é falar de Jalisco (estado da cidade de Guadalajara). E falar de Jalisco é falar do México", completa ele, que ajuda a administrar uma arena localizada em plena região central de Guadalajara.
Ao todo, o estado de Jalisco reúne 150 grupos de charros que disputam as eliminatórias. Para cada competidor, há todo um ritual de uniformes e equipamentos de proteção: calças de couro (ou chaparreras), luvas, sombreros reforçados e outros itens compõem o "uniforme" dos charros, que se apresentam quase sempre de barba feita, e que se vestem de forma ainda mais tradicional nos "eventos sociais", segundo explica Javier.
Empresário da construção civil, ele mesmo explica que nenhum dos charros ganha dinheiro com a modalidade, mantida simplesmente por amor às tradições. Aposentado do esporte desde os 40 anos por conta de uma lesão nas costas, Javier se gaba de ter sido um talentoso charro no Jineteo de Toro, a quarta sorte do programa da modalidade - uma montaria, no qual o peão só desce quando o novilho para de pular. Em seguida, tira-se a corda que amarra a cintura do animal. "Comecei a praticar com 14 anos. Cheguei a ser campeão nacional aos 18 com o Charros de Jalisco", conta o hoje conselheiro.
O Terra acompanhou um "amistoso", segundo Javier, do Charros de Jalisco contra a equipe de Zapopan. O time de Guadalajara, classificado para a etapa nacional, apenas fez uma demonstração de seus charros diante de pouco público. "Vamos apresentar alguns deles, mas temos que ter cuidado. Não podemos machucar um dedo, uma mão, um pé", justifica Javier que diz que o público aumenta diante de confrontos mais importantes.
Em pouco mais de duas horas de eventos, os times de Guadalajara e de Zapopan disputam as dez sortes: Cala de Caballo (um adestramento), Pial en el Lienzo (laçar um pequeno bovino em fuga), Coladero (perseguir e derrubar um bovino pelo rabo), Jineteo de Toro, Lazo a la Cabeza (laçar o novilho montado na prova anterior), Pial en el Ruedo (laçar e derrubar na parte principal da arena), Jineteo de Yegua (como uma montaria em uma égua), Manganas a Pié (um charro no chão laça um cavalo em disparada), Manganas a Caballo (o mesmo, com o charro sobre cavalo) e Paso de la Muerte (em disparada, um charro salta de um animal a outro).
A cada sucesso dos peões, escalados especificamente para cada sorte, o público presente vibra e aplaude em torno do "ruedo" (a parte circular da arena, que conta com um corredor chamado "amanga"). Javier, substituindo um dos dois narradores da tarde, vibra com seu bordão "claro que sim". Ao fim das sortes, o time de Guadalajara "goleia" os visitantes: 355 a 187. Festa dos Charros de Jalisco, cujo lema é "pátria, mulher e cavalo". Em ambiente familiar, crianças e jovens também comemoram.
Javier assegura contar com o apoio de crianças e adolescentes, e descarta qualquer restrição significativa no México diante de grupos de direitos dos animais. "Há um apoio absoluto dos jovens ao esporte, à cultura e às tradições", diz ele, contando com uma disseminação positivo da modalidade para os visitantes que estejam em Guadalajara para o Pan. "Nós nos sentimos orgulhosos por Guadalajara receber os Pan-Americanos. O charro em si é um símbolo para o mundo do que é Guadalajara e Jalisco", completa.
Pan 2011 no Terra
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